A convite da UNESCO, o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), da Universidade Cândido Mendes, realizou o primeiro levantamento sobre um novo e importante fator no debate sobre segurança pública e criminalidade no Brasil: os blogs. A blogosfera policial, como é chamada pelos seus integrantes, é um fenômeno recente da internet brasileira, mas já reúne dezenas de páginas assinadas por policiais civis, militares e rodoviários de várias patentes, bombeiros e jornalistas especializados. Com um conteúdo diversificado, visões divergentes e ambições variadas, estas páginas começam a exercer influência sobre instituições e formadores de opinião.
A pesquisa foi realizada através de entrevistas, mesas redondas e um questionário de 35 perguntas, que ficou disponível para preenchimento via internet entre os dias 18 de maio e 8 de junho de 2009. Neste período, 73 blogueiros, autores de 70 blogs, responderam às questões, compondo uma amostra significativa, já que levantamentos feitos por blogs como Abordagem Policial identificaram um universo de 80 blogs. Este é, certamente, um universo em expansão: entre os 70 blogs estudados neste levantamento, 58 – 82,8% – foram criados entre 2007 e 2009.
Participantes de 17 estados responderam à pesquisa, mostrando que a blogosfera policial é um fenômeno genuinamente nacional. Apesar disso, não se pode deixar de observar que o Sudeste é a região dominante: o Rio de Janeiro é o estado que abriga o maior número de blogs (22), seguido de São Paulo (11) e Minas Gerais (10).
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Quando questionados sobre as motivações que os levaram a criar blogs, mais da metade dos participantes (55%) disse desejar expressar seus próprios pontos de vista sobre segurança e justiça. Outro grupo pretende falar para a própria categoria, divulgando assuntos de interesse da corporação. Por fim, há ainda os que usam as páginas para fazer denúncias sobre seus comandos ou outras instituições, e os que pretendem mostrar à sociedade a realidade das corporações.
Uma característica comum a vários depoimentos é a ideia de que no passado muito se falou sobre a polícia e os policiais, mas quase nada foi dito pelos próprios agentes de segurança. O debate era sempre entre profissionais de meios de comunicação, os especialistas e os governantes. O crescimento acelerado da blogosfera mostra a urgência com que os policiais estão construindo um espaço onde é possível falar, tomar a palavra e elaborar conclusões, sempre na primeira pessoa. Diante de cinco opções fechadas, 40% responderam que ser blogueiro “é um meio de expressão política”. Um terço, isto é, 31,4%, responderam que é “parte do trabalho” e 17% “um serviço público”
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O temor de retaliações ainda regula a blogosfera policial. Entre os 73 entrevistados, 27 disseram já ter sido censurados ou reprimidos. As ameaças de prisão e transferência vêm em primeiro lugar, com quase 26% dos casos. Casos notórios destas reações foram registrados no Rio, onde o comando da Polícia Militar (PM) puniu três autores de blogs, e em São Paulo, onde o blog de um delegado foi retirado da internet pela Justiça, a pedido da Polícia Civil (PC) de São Paulo. Os blogs policiais implantaram na sociedade brasileira um novo espaço de debate, onde não vigoram as regras hierárquicas e a rivalidade estabelecidas nas corporações. Além de apresentar a realidade do trabalho policial e oferecer informações úteis aos que desejam entrar para as forças de segurança, os blogs fazem com regularidade análises críticas das ações dos gestores destas forças. Suas observações reverberam entre colegas, comandantes, governantes, na imprensa e na sociedade. O debate aberto de instituições tradicionalmente fechadas favorece a qualificação das forças de segurança e a consolidação de padrões de conduta mais éticos e transparentes entre comandantes e subordinados.
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Jornalistas começam, também, a criar suas próprias páginas dedicadas ao tema “segurança pública e criminalidade”, expressando opiniões, abordando assuntos esquecidos, estabelecendo novas fontes e respondendo às demandas dos leitores. A ampliação destas páginas tende a acelerar a qualificação profissional dos repórteres e editores destas áreas que observamos a partir dos anos 1990.
LEIA ESTUDO COMPLETO EM: http://www.ucamcesec.com.br/arquivos/publicacoes/Do_tiro_ao_twitter.pdf