Frei Betto, participante da estrutura do governo Lula nas primeiras horas, ao deixá-lo, escreveu um livro intitulado A Mosca Azul, onde discorre sobre a problemática das tentações do poder.
"Existem cinco grandes tentações do ser humano. Poder, poder, poder, dinheiro e sexo." (Frei Betto)
Tema recorrente nos estudos de intelectuais ao longo da história, tem-se registro de debates sobre o PODER desde Platão (428 - 347 AC). Este condenava veementemente o que chamava de Pleonexia, ou seja, o desejo insaciável de mais poder, prazer e riqueza, que atormenta a maioria das pessoas.
Maquiavel (1469 - 1527), criador da célebre frase que diz "os fins justificam os meios", afirmava que a obsessão pelo poder cega os homens e os leva à ruína, se eles não souberem aplicar corretamente a força.
Hobbes (1588 - 1679) e Spinoza (1632 - 1677) diziam que o desejo pelo poder era característica presente na própria essência do ser humano, difícil de ser eliminado.
O estudioso moderno que, provavelmente, mais tempo dedicou ao tema foi Foucault. Em suas obras, principalmente Vigiar e Punir e Microfísica do Poder, costuma dizer que estamos presos numa rede de laços de poder dos mais variados tipos, muitas vezes sem ser percebido claramente as suas interações.
Não é difícil observar que a existência de um poder sempre gera um contra-poder, ou seja, uma reação de resistência, se considerarmos que o poder implica uma relação de dominação, de fazer prevalecer a vontade de quem detém o poder sobre os subalternos. Quando o dominador recorre à força (física ou psíquica), como único recurso, para a manutenção do poder, é um sinal de profunda impotência.
"O poder deixa as pessoas estúpidas e muito poder deixa-as estupidíssimas". (Robert Kurz - Sociólogo alemão)
A estratégia adotada pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social para tentar por fim à situação de insatisfação da tropa, através de pressões e ameaças, com certeza não foi a mais correta, pois gerou uma situação de resistência à dominação, além de ter demonstrado a impotência para lidar com a questão de uma forma mais competente. Com certeza o diálogo e o esclarecimento de dúvidas teria sido o caminho mais apropriado.
A situação que vislumbramos agora, com tentativas de manifestações, greves brancas, operação tartaruga, polícia legal, etc.; é apenas o transbordar de um longo período de promessas não cumpridas, de esperanças desfeitas, de falta de diálogo e, principalmente, de interferências externas nas decisões afeitas à nossa Polícia Militar.
Um Coronel de nossa briosa Corporação, há pouco tempo, pronunciou em alto e bom som: "Está chegando um tempo na PM em que nossos filhos ficarão em dúvida entre cursar medicina ou ser Soldado de polícia". Será que esta época está realmente próxima?
Muita gente costuma afirmar que o poder transforma as pessoas, entretanto, com minha experiência de oito anos convivendo muito próximo ao poder, vivenciando o dia-a-dia de autoridades municipais, estaduais e federais, posso afirmar categoricamente que as pessoas não mudam com o poder, mas sim revelam-se em suas verdadeiras personalidades.
"Era uma mosca azul, asas de ouro e granada(...) E ele deixou-se estar a contemplá-la, mudo e tranquilo, como um faquir, como alguém que ficou deslumbrado de tudo, sem comparar, nem refletir (...) Quis vê-la, quis saber a causa do mistério. E, fechando-a na mão, sorriu. De contente, ao pensar que ali tinha um império, e para casa se partiu." (Machado de Assis)
Este fragmento é de uma poesia de Machado de Assis, escrito em 1901, também intitulado A Mosca Azul. Se lembrar alguém, é mera coincidência.