BOAS-VINDAS

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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Desabafo de um Oficial da PM de Sergipe

Recebi um e-mail com um texto que tem circulado por todo o país. Por respeito aos companheiros da Polícia Militar do Estado de Sergipe, tomo a liberdade de publicá-lo:
"Primeiramente vamos às apresentações: sou policial militar a 12 anos, oficial de baixa patente e miliciano por vocação. Sempre admirei a estrutura militar, o orgulho que estes profissionais têm em envergar sua farda, a disciplina, as ordens prontamente executadas, a hierarquia respeitada...
Meus olhos brilhavam nos desfiles de 7 de setembro (os quais eu chegava uma hora antes do início, quando era criança, para não perder a passagem da PM, que para mim era a mais bonita). Sentava nas rodas de conversa da família somente quando meus dois tios que eram soldados contavam suas histórias de trabalho, dos partos que fizeram, dos assaltantes, estupradores e traficantes que prenderam, do orgulho e da satisfação do dever cumprido, e principalmente, da visualização na face das pessoas que estava ali um amigo pronto a lhes ajudar. Todo mundo no bairro onde estes tios meus moravam, enxergava neles os exemplos a serem seguidos por seus filhos. Foi com admiração a estes bravos homens que decidi ingressar na Polícia Militar.
Não foi uma decisão fácil. Minha mãe perguntou se eu estava louco: “Filho, a nota que você tirou na UFS te habilita a fazer qualquer curso lá. Vá ser médico, dentista, advogado...” Lembro-me da resposta que lhe dei: “Mãe, a vontade de ajudar as pessoas está falando mais alto em mim neste momento”. Nesta época eu era funcionário concursado do Tribunal de Justiça do Estado, ou seja, ingressei na PM por opção e não por falta dela, como muitos policiais antigos que ingressaram na carreira, mas que aprenderam a amar a farda e defender a sociedade mesmo com o baixo reconhecimento.
Fiz o vestibular da UFS para o Curso de Formação de Oficais, a segunda turma que pode ter o orgulho de dizer que foi aprovada em um concurso limpo, honesto e transparente. A concorrência foi de 51 candidatos por vaga.
Após a aprovação, fui matriculado em uma Academia de Polícia Militar de outro estado e para lá fui, me afastando de meus familiares e amigos, começando praticamente uma nova vida: a do sacerdócio da Segurança Pública. Com um mês de curso, recebo o telefonema de minha irmã. Ela me informava que chegara um telegrama a nossa casa me convocando para ocupar uma vaga no Tribunal Regional Eleitoral do estado, pois antes do concurso da PM eu tinha, também, participado desta seleção.
Passei quatro anos dedicados integralmente à formação. Aulas pela manhã, à tarde, à noite. Aos sábados e, não invariavelmente, aos domingos. Nestes quatro anos, meu cabedal de disciplinas e carga horária cursadas deixa qualquer curso superior de cinco ou seis anos ruborizado de pequenez acadêmica (se é que assim posso dizê-lo).
Formei-me. Retornei a meu estado e não vou negar que o choque cultural foi grande. Sair de uma Academia de uma Polícia Militar de renome e aparecer por aqui, numa corporação em que a bagunça institucional está instalada é complicado.
Passei por três governos, vendo meus superiores hierárquicos enchendo os bolsos de dinheiro com a realização de policiamento de eventos e com a exploração da tropa em serviços particulares ou com empresas de segurança apoiada na logística da corporação e nada podia fazer, pois era um peixe pequeno perto desta conspiração. Achava que a culpa era única e exclusiva deles, destes oficiais, porém entendo que eles estavam fazendo o que eles achavam correto para resolver seus problemas salariais, uma vez que os ex-governadores abandonaram a segurança pública preventiva, sem a realização de qualquer investimento vultoso, principalmente no ser humano policial militar.
Chegou o ano de 2006. Finalmente víamos a possibilidade de um candidato advindo dos movimentos populares assumir a chefia do Poder Executivo estadual. Enxergava-se claramente na face de cada policial militar (o barnabé da segurança pública) a esperança de dias melhores com a eleição de Marcelo Déda. Seu nome despontava com ares messiânicos. Era o único engajado, dos candidatos à época, com propostas para a valorização do profissional de segurança pública.
Veio a eleição, a qual o resultado nós bem conhecemos. Tive a oportunidade de comandar o policiamento no CIC, local de apuração, e, após o anúncio do nome de Marcelo Déda como governador do Estado de Sergipe, dezenas de policiais militares quebraram o protocolo castrense e começaram a se abraçar e a chorar, ali mesmo, junto com os populares presentes ao evento. Não pude me conter, e fui aos prantos também. Vi, naquele dia, a possibilidade do policial militar viver única e exclusivamente de seus vencimentos, de possuir uma jornada semanal de trabalho fixada (não ficando ao arbítrio da vontade de seu comandante para trabalhar infindavelmente), de ser respeitado tal qual qualquer trabalhador comum.
Após dois anos de governo, a tropa perdeu a esperança. Assistimos a uma série de trapalhadas monumentais realizadas por aquele que tanto utilizou a ética como plataforma de campanha política. A Polícia Civil do Estado de Sergipe foi aquinhoada com uma conquista salarial histórica. Um agente de Polícia Civil vai perceber 45% dos vencimentos de um delegado de sua respectiva classe. Some-se a isso que eles ainda possuem adicional noturno e o direito à percepção de horas-extras, pelo fato de possuírem carga horária semanal de trabalho fixadas, além da gratificação de curso e do adicional de um terço ao vencimento-base ao completar vinte e cinco anos de serviço. E o que veio para a PM? O reajuste em cima de uma gratificação precária que o comandante geral pode tirar e pôr no contracheque através de uma portaria. Que o PM ao passar para a inatividade deixa de perceber, que a família do policial morto não incorpora na pensão militar. Quanta humilhação, Jesus Cristo...
Este governo não me parece o governo das mudanças. É sim o governo da manutenção das palhaçadas, da desmoralização, do jeitinho engabelador para com os servidores militares. Será que nos tratam assim pelo fato de não termos a competência da realização do Inquérito Policial e não podermos investigar licitações fraudulentas no estado, desvios de verbas, tráfico de influência, etc, pelo fato de nossa missão constitucional ser impedir os “crimes de rua”? Ou será que pelo fato de não podermos fazer greve, isso lhe dá o direito de pisar na tropa? Digo sempre a meus comandados: “Sou policial militar, não sou babaca! Respeito a hierarquia e a disciplina, mas se meu superior hierárquico não me respeita eu também não o respeito”.
Neste momento o Governador Marcelo Déda não está respeitando os oficiais de baixa patente da Polícia e do Corpo de Bombeiros Militar. Brevemente um policial civil, elemento de execução, perceberá remuneração maior que um Capitão da Polícia Militar, profissional com curso superior, com comandamento de 150 homens e encarregado de policiar cidades de porte médio do interior sergipano bairros da grande Aracaju. Um capitão PM vai perceber menos que o servidor que faz o boletim de ocorrências na DP! Meu Deus, onde vamos parar?
Um fato deste está beirando os limites da insanidade. Ademais as missões de policiamento, o oficial PM é encarregado da Polícia Judiciária Militar, ou seja, faz as investigações dos crimes militares, labuta como Juiz Militar na Auditoria Militar do TJSE e possui uma série de atribuições que encheria páginas deste desabafo e vai perceber menos que um agente de Polícia Civil.
O que fazer para resolver este problema?
O que tenho a dizer senhor governador é que não conte comigo para nada, vou fazer apenas o “café com leite” do dia-a-dia da caserna. Chega de estudos na área de Segurança Pública (e que ao contrário da PCSE, não nos rende um centavo no holerite), afinal três especializações e duas graduações não estão me servindo de nada. Chega de passar madrugadas acordado, para fiscalizar policiamento, chega de minudências nos procedimentos correcionais disciplinares dos infratores militares, chega de lavrar termo circunstanciado de ocorrências, chega de rigor nas blitz e abordagens realizadas. Chega de tudo. Enquanto o senhor não me respeitar eu vou fingir que trabalho e o senhor vai fingir que me paga...
Senhor Secretário de Segurança Pública, ganhastes uma nova oportunidade: ajude os militares estaduais, pois não haverá segurança pública eficiente com a desvalorização do policial militar. Somos nós que atendemos 97% das ocorrências policiais no estado. Por que não merecemos respeito?
Senhor comandante, você é um dos nossos, veste a farda. Defendo-te com todo o amor que tenho à corporação. Lute para reverter este quadro. Estarei a teu lado. Não deixe a oficialidade sucumbir a esta desmoralização com vistas à preservação de um status quo passageiro e ilusório.
Que Deus nos ajude e olhe por nós!

CAPITÃO MANO

2 comentários:

Anônimo disse...

Quando Sergipe e outros estados brasileiros se equipararem a São Paulo e Rio de janeiro no que diz respeito a violência urbana, talvez nossos governantes e a própria sociedade passe a valorizar a polícia.Esperamos que não seja tarde demais.
Que antes que o pior venha a acontecer algo seja feito é o que desejo....

Anônimo disse...

Está carta é a descrição do que a PMBA está atravessando, peço permissão ao autor para dizer sem tirar nem por palavras, que esta situação é a copia do que esta se passando na Bahia. Peço o apoio da população e dos companheiros que se sentem desta mesma forma. Vamos exigir melhorias em nossos salários e condições de trabalho, espero que o governador Jaques Wagner compreenda nossa situação e faça algo por nós.